SEXTA FEIRA DA PAIXÃO

NÃO VAI TER???

Em um determinado momento tinham um grupo, que nasceu com um objetivo puramente religioso e cresceu como um grupo de base enraizada no Jesus Histórico das CEB’s. Esse grupo definia objetivos e metas anuais e seguiam em frente. E assim, em um determinado dia, surgiu a ideia do teatro da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo em Simão Dias, no ano de 1987. Puramente para atrair mais jovens para igreja, durante décadas, ano a ano o grupo parava para se organizar e estruturar o evento que tinha sido sucesso no primeiro ano. Inicialmente usavam as praças, as ruas, os casarões, a escola e a igreja como cenários.
Arquivo Prof. Edmilton
Papel, goma, tecido, paus, latas, velas, breu, pólvora, arame, fio, tinha de tudo um pouco em um emaranhado de boa vontade e desejo, puramente coberto por doação humana em prol daquele evento. Circulavam pelos povoados da cidade, circulavam por cidades vizinhas, tornaram-se referencia no estado e se fortaleciam ano após ano. Vale ressaltar que o grupo sempre esteve acima da Peça Teatral, Mas, como todo grupo de jovens, os jovens se tornam adultos, viajam em busca de trabalho, se engajaram nas lutas sociais e política, estudam e constroem carreira, constroem família, seguem em frente. E aquele grupo se renovou por um bom tempo. Os velhos, vez ou outra, apareciam para dar seus testemunhos e matar a saudade. Nossa! Eles são para mim, como heróis. Sério. Eu um guri, vivia catando lata e colecionando ficha de refrigerante com figuras de jogadores de futebol, quando os vi na rua pela primeira vez... aquele fogaréu... a fumaceira... e o cristo ressuscitando... para mim inesquecível... Sério! quem vê de fora se emociona por completo. Mas eu queria ver de dentro, saber detalhes daqueles pregos nas mãos e pés do Jesus, ver como Jesus Ressuscitava. Eu guri, aos meus quase 12 anos já sonhava em ser Jesus, lembro que chegou em casa um jovem cabeludo chamando meu irmão para coletar as roupas da peça, arregalei os olhos e rezei para meu irmão mim convidar. Mais tarde, estava eu jogando ping-pong na casa das freiras. Sonhava com o próximo final de semana, e um ano depois, eu pintava, colava, pregava, amarrava, e decorava duas pequenas frases do Apostolo Tiago... foi aí que percebi que o grupo era muito mais importante que a peça teatral em si, pois, os bastidores era e sempre será mais importante que os atores. Os expectadores irão enaltecer sempre os atores, mas, quem está de dentro sabe que sem os bastidores nada avança.
Arquivo ISAJE
(vou dar um salto). Na Peça Teatral Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo de Simão Dias, estive (aquele guri) atuando como Jesus Cristo por nove anos, mas nunca abandonei os bastidores. Por isso, nasceu o Instituto Simãodiense de Juventude, que muitos pensam ser um grupo de teatro, e na verdade é quase tudo, menos um grupo de teatro. O ISAJE é uma ferramenta estruturante não só para o teatro, mas para a cultura como um todo, foi com essa ferramenta que o evento se manteve nos últimos dez anos, conseguimos ser premiados pelo MinC por duas vezes, temos sim, uma boa estrutura de som, iluminação e palco. Entretanto, em síntese, nossos recursos humanos (os bastidores) encontram-se ocupados/as com estudos, família, trabalho. Na verdade, falta algo que instigue um pouquinho dos desejos daqueles guris, nos jovens e adultos de hoje. Cito Chico César: O carneiro sacrificado morre, o amor morre, só a arte não. Isso mim faz acreditar que ressuscitaremos assim que percebermos ser necessário.

José Santana Curvelo – JAI,
Sexta-feira da Paixão de 2018.

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